Como Madri viu a atuação de Kaká

Desta vez, não vou falar de F1 nem de automobilismo. Se trata de um esporte que, suponho, muitos leitores devem gostar. E o tema só caiu na minha frente por compromissos indiretamente ligados à F1, no fim das contas.

Estava em Madri apenas para tirar os vistos necessários para algumas das últimas etapas da F1. Voltando de uma das embaixadas, peguei o metrô para o albergue quando passei pela estação Santiago Bernabéu da linha 10. Deu um estalo: “Será que tem jogo hoje?”.

Tinha. E seria um quase-amistoso… Antes mesmo de ler as notícias do dia – na rotina maluca da F1, mal tenho conseguido acompanhar futebol; ainda que esteja oficialmente morando na Espanha, quase não fico em Barcelona por causa dos GPs -, o primeiro pensamento que me veio foi o de que Kaká deveria jogar. Tinha ouvido recentemente que ele estava recuperado e bem condicionado fisicamente. E, bom, todos sabemos que Mourinho não faz a menor questão de colocá-lo em jogos que valham e o desta quarta era a típica oportunidade para reservas.

Dei um jeito de conseguir um ingresso e cheguei ao estádio meia hora antes da partida. O Bernabéu não estava muito cheio, mas os torcedores pareciam se espalhar pelas arquibancadas de uma maneira razoavelmente equilibrada, deixando pouquíssimas áreas totalmente vazias.

A partida contra o Millonarios da Colombia era mais uma edição, a 34ª, do Troféu Santiago Bernabéu. Na prática, um amistoso. Mas conforme o jogo foi se desenrolando, a reação da torcida era como num jogo normal. Do primeiro ao oitavo, todos os gols foram comemorados com a devida emoção. Da mesma maneira, todos os jogadores substituídos foram aplaudidos. De onde eu estava e do que eu conseguia ouvir lá de cima e no fundão, Kaká só perdeu para Callejón, mas eu não posso assegurar que foi assim no estádio inteiro ou uma impressão da “minha área” (o Bernabéu é enorme).

Na história da partida, Kaká foi indiscutivelmente o melhor em campo. A primeira chance de gol do Real, nos primeiros lances do jogo, veio dos pés dele. O camisa 8 celebrou um hat-trick que incluiu gol de costas e de pênalti, além de uma assistência. No fim, foi eleito o melhor da partida-torneio.

A torcida não aplaudiu tanto assim no momento em que Kaká recebeu seu troféu, mas a sensação era de que não tinha muita gente prestando atenção, era hora de correr pro metrô/ônibus e ir pra casa.

Honestamente, não tenho a menor ideia sobre quando foi que Mano Menezes decidiu convocar Kaká – não sou setorista de Seleção, não conheço os meandros da igrejinha -, mas a atuação de ontem foi suficientemente boa para justificar sua volta. Trocando tweets com o Felipe Lobo, da Trivela, ele lembrou que o Millonarios não é tão pior que uma série de times pequenos da Liga Espanhola. Ou seja, Kaká jogou bem mesmo e ponto final.

Na noite desta quinta, a convocação de Kaká era a principal manchete na capa do site do jornal espanhol As. Toda a parte nobre da coluna esquerda, aliás, era dedicada ao jogador com outros nove links dedicados a ele. A capa do diário, em papel, também foi de Kaká:  ”Kaká não se rende”, chamou o jornal, frisando o hat-trick mais os “dobletes” de Morata e Callejón, e o último gol, que foi de Benzema.

Mas o que chamava a atenção no As, nesta noite, era o resultado de uma pesquisa que o site fez com os leitores. “Kaká está pronto para jogar no Real Madrid?” era a pergunta. No momento em que foi feita a nota linkada aqui, 72% dos internautas haviam respondido que sim, mas a pesquisa continuou ativa depois da publicação do texto.

Mourinho avaliou bem o desempenho de Kaká, mas se manteve meio blasé, daquele jeito “é, foi bem, que bom… pra ele”. Disputar com Özil e com o recém-contratado Modric serão outros quinhentos. As chances de que algo mude para o brasileiro no Real Madrid parecem continuar menores do que ele gostaria.