Uma Copa em minha vida

— É que eu vou treinar futebol com as meninas.

— Que futebol? Que meninas?

— Da Copa Trifon.

— Que “Copa Trifon”?

— Ué, você não está sabendo? Copa Trifon Ivanov. Você não segue as mesmas pessoas que eu?

— Ah, não sei, não estou sabendo. Como faz pra participar?

— Manda um e-mail pro Portes.

— Que Portes?

— Você não segue as mesmas pessoas que eu sigo????? Vou escrever pra ele e te passo o endereço porque já foram as inscrições, mas deve ter lista de espera. Continuar lendo

O que eu não contei: GP do Brasil 2012

Durante a temporada 2013 de Fórmula 1, publico aqui no ENTRELACE alguns textos narrando episódios pessoais sobre os quais não tive a oportunidade de escrever enquanto cobria a temporada 2012, no mais das vezes por causa da correria que me fez dar conta da rádio Estadão/ESPN, revista ESPN, site Tazio, meu blog e o blog Acelerando com Bruno Senna (os dois últimos, dentro do Tazio).

Quem olha de fora e à distância só vê o resultado. É natural, ninguém exige que seja o contrário. E a verdade é que eu fico mais feliz quando o ouvinte não percebe que eu estou com dor de cabeça, vontade de fazer xixi, fome e sono durante uma transmissão ao vivo. Porque a parte mais legal dos finais de semana da temporada que eu cobri eram as transmissões ao vivo no domingo, não tenham dúvidas.

Só que o domingo é o último dia da semana de GP. Você chega ao domingo já tendo usado toda a energia que você tinha e não tinha, e, ainda assim, sem dó, ele é o dia mais importante. Você drenou sua energia apenas para poder chegar ao domingo, a cada um dos 20 domingos. Da mesma maneira, fim de temporada é doloroso: o cansaço acumulado faz com que tudo o que você queira seja a sua casa por mais de oito dias seguidos (dos quais você passou, em média durante o ano, três como um zumbi se recuperando da corrida anterior). Continuar lendo

O que eu não contei: GP dos Estados Unidos 2012

Durante a temporada 2013 de Fórmula 1, publico aqui no ENTRELACE alguns textos narrando episódios pessoais sobre os quais não tive a oportunidade de escrever enquanto cobria a temporada 2012, no mais das vezes por causa da correria que me fez dar conta da rádio Estadão/ESPN, revista ESPN, site Tazio, meu blog e o blog Acelerando com Bruno Senna (os dois últimos, dentro do Tazio).

Mais uma temporada de Fórmula 1 vai terminando, a 64ª da história, a sétima desde que comecei a acompanhar como jornalista, in loco ou à distância. Por conta da correria da vida (e possivelmente um equívoco de priorização meu), não escrevi todos os “O que eu não contei” que gostaria, mas como consegui vir para Interlagos ao menos neste sábado e domingo de GP do Brasil 2013, não tenho porque jogar a oportunidade fora, certo? Este post tinha começado como “O que eu não contei: GP do Brasil 2012”, mas precisava contar o capítulo anterior…

No ano passado, cheguei a São Paulo um dia atrasada depois de perder o voo de Dallas para cá. O GP de Austin havia sido disputado no domingo imediatamente anterior. Saí da cidade  seis horas antes do voo com meu carrinho alugado e as duas malas no limite de peso, exatos 32kg cada, carregando minha mudança de Barcelona para São Paulo. Austin fica a aproximadamente três horas de Dallas e, por isso, as seis horas me pareciam mais do que suficientes para chegar ao aeroporto e ainda curtir um lounge de companhia aérea (ui!). Continuar lendo

O que eu não contei: GP do Canadá 2012

Durante a temporada 2013 de Fórmula 1, publico aqui no ENTRELACE alguns textos narrando episódios pessoais sobre os quais não tive a oportunidade de escrever enquanto cobria a temporada 2012, no mais das vezes por causa da correria que me fez dar conta da rádio Estadão/ESPN, revista ESPN, site Tazio, meu blog e o blog Acelerando com Bruno Senna (os dois últimos, dentro do Tazio).

Foi lá em Montreal que ela viu, pela primeira vez, uma loja especializada em camisinhas — era um sex-shop, na verdade, mas tinha de fato uma parede dedicada somente às camisinhas asiáticas, que dizem ser as melhores. Foi em Montreal que ela se deparou, também pela primeira vez, com um daqueles cartazes cada dia mais populares em que o pedinte de rua diz: “Por que mentir? Quero cerveja!” ou “Quero maconha!”, etc. E foi em Montreal que, pela primeira, ela e o futuro novo namorado reservaram o mesmo quarto de hotel pela primeira vez. No caso deles, era um grande passo, afinal, as viagens eram a trabalho e, a princípio, cada um tinha o direito pessoal e profissional de ter o seu próprio quarto de hotel.

Preocupados com a fofoquinha dos colegas, dado o eterno clima de colegial que paira sobre o itinerante paddock da Fórmula 1, eles procuraram um bairro mais afastado do buzz que transforma tudo em uma grande sala de imprensa. Porque na F1 é assim: em toda cidade, há o “hotel da mídia” ou uma área que os jornalistas escolhem para concentrar as suas reservas e, assim, ficarem todos juntos antes E depois do trabalho — ou então porque fica mais fácil pegar o shuttle bus até a pista, quando existe o serviço.

Voltando a eles. Até ali, já haviam sido disputados seis GPs no ano. Já haviam passado seis GPs grudados, cinco GPs como um potencial casal e todos os dias de intervalo entre provas permeados por longas, infindáveis interações por mensagem de texto. Eles tinham dividido quarto uma única vez, mais por uma contingência emergencial do que por planejamento. A lista de dúvidas era extensa:

– Putz, e se rolar uma falta de privacidade? Se nos sentirmos, assim, invadidos?

– Putz, e se alguém nos vir na rua andando juntos? (Onde, por “alguém”, leia-se “colegas fofoqueiros”.)

– Putz, e se for muito legal???

– Putz!

Naquela fase do relacionamento, tendo ela acabado de sair de outro, tendo ele ficado sem saber o que era um por longos seis ou sete anos, a terceira dúvida era possivelmente a pior de todas elas, a que mais atormentava.

O que unia todas as questões era a incerteza do que era realmente aquilo, ao qual eles chamavam somente de “it” — ah, sim, porque até que ele aprendesse os sufixos -inho e -ão, tudo se dava em puro inglês. Pois aquilo lá não tinha nome: não era namoro, não existia “rolo” de onde ele vinha, só que tampouco era nada. E ficou sendo “it”, então.

O tal do “it” foi bem legal lá em Montreal. Eles andaram pelas ruas a esmo, desceram do táxi antes do destino para se enfiarem nos protestos e entender melhor o que queriam os estudantes canadenses naquele momento, eles até participaram do encontro que um colega jornalista costuma fazer com os fãs locais de F1 e passaram um tempão conversando com um garoto americano empolgado, empolgado! E ele teve ali uma epifania que o fez respeitar os petrolheads como nunca antes (segundo ela, ele é um grasshead, termo que ela inventou para designar fãs inveterados de futebol assim como os petrolheads são fãs de esporte a motor ou carros… embora ele não admita). Eles chegaram até a encontrar um restaurante etíope para jantar porque ele jurava para ela que era uma das melhores comidas do mundo e ela não acreditava.

Na pista, problema zero. Eles não admitiam “it” pra ninguém, até porque seria meio difícil explicar o que eles mesmos não entendiam, mas, aos poucos, iam perdendo o medo de que “it” se tornasse público. Só tem uma coisa que eles nunca deixaram de considerar: trabalho era trabalho e “it” era “it”, cada um no seu quadrado.

Depois do GP do Canadá, passaram uma semana juntos em Bermuda. Eles decidiram para onde iriam lá em Montreal, mesmo. Ela não queria ir porque ficou com medo de cair no Triângulo das Bermudas e nem ficou com vergonha de contar isso pra ele, veja se pode? Sinal de que o relacionamento tinha futuro porque uma bobagem dessas, ela jamais dividiria com qualquer um. Foi a primeira viagem deles que não era a trabalho, a primeira viagem romântica. E adivinha em que dia eles chegaram lá? Doze de junho, Dia dos Namorados no Brasil. Eles entraram na brincadeira e brincaram até de annoying couple, inspirados na mais de uma hora de fila que ela tinha pego atrás de Vanessa Hudgens e seu namorado hollywoodiano lá em Mônaco. Annoying couple, ou casal pentelho, é aquele que fica falando fininho e cuticuti na frente de todo mundo em qualquer lugar, sabem? Foi divertido.

Lá em Bermuda, ela falou durante o sono. Ela disse assim: “Terá que ser decidido em Valência”. E ela falou em inglês, que nem era sua primeira língua, como se quisesse mesmo que ele entendesse. A semana passou, eles voltaram cada um para sua casa outra vez, esperando a próxima viagem em que se encontrariam. E seria justamente Valência, para o GP da Europa.

PS: Eu até pensei em terminar de contar a história deles no próximo “O que eu não contei”, mas, puxa vida, Bernie… Valência saiu do calendário da F1.

O que eu não contei: GP de Mônaco 2012

Durante a temporada 2013 de Fórmula 1, publico aqui no ENTRELACE alguns textos narrando episódios pessoais sobre os quais não tive a oportunidade de escrever enquanto cobria a temporada 2012, no mais das vezes por causa da correria que me fez dar conta da rádio Estadão/ESPN, revista ESPN, site Tazio, meu blog e o blog Acelerando com Bruno Senna (os dois últimos, dentro do Tazio).

A cobertura do GP de Mônaco foi, de longe, a mais caótica do ano. Eu vou contar o motivo agora e talvez vocês riam ou pensem: “A Vanessa, sempre tão discreta, está ficando louca!”. Mas eu conto o motivo porque tem coisas, como a morte, sobre as quais não adianta deixar de falar. Elas existem, podem ser incontroláveis e, às vezes, atrapalham todos os planos. A TPM, ou tensão pré-menstrual, é uma delas. E, no caso, é também uma questão extremamente feminina — como eu trabalho num meio ainda muito masculino, é natural que assuntos do tipo virem tabu ou provoquem risinhos como se nós todos vivêssemos eternamente numa sala do colegial.

A tal da TPM, não a TPM, é o inferno na Terra principalmente por um motivo: nem sempre a gente percebe que está sofrendo dela. No meu caso, eu costumo me dar conta no dia seguinte a um episódio de ódio mortal injustificado, por exemplo.

O GP de Mônaco do ano passado foi muito emocionante por causa disso, perguntem aos meus colegas de trabalho Diogo Kotscho, Rodrigo França e Gary Meenaghan. Foi depois desta corrida, aliás, que mr. Meenaghan foi apelidado por mr. Kotscho de “meu herói”.

Teve debate na sala de imprensa:

— Não grita.

— mAS eU NÃo TO GRITANNNNdo!!!

Teve uma multa na volta da festa no barco do dono da Force India (TPM, transformando o glamour em micão):

— Por que você está se segurando no carro?

— Por nada.

— Você não confia na minha direção?

— Claaaaro que sim, imagina.

Mas a parte mais UHU! foi o fora que sir Frank Williams (me) deu na coletiva de imprensa da FIA. E olha que eu não provoquei, não. Foi realmente um brinde para testar meu peculiar estado hormonal. Só que ele veio pedir desculpas depois, é verdade. [Leia a história aqui no ENTRELACE.]

Foi um final de semana realmente animado, ainda que o trabalho não tenha sido prejudicado. Mas eu entendo que ainda agora você esteja se perguntando: “Por que cargas d’água a Vanessa está escrevendo sobre isso?”. Eu respondo melhor.

É porque eu sou uma mulher trabalhando num meio masculino, escrevendo para uma audiência composta majoritariamente por homens e, infelizmente, ainda tem muito homem que acha que TPM não existe, que é frescura, que é invenção. Acreditem em mim: não é. E é grave, mas felizmente tem tratamento. Mulheres, procurem-no (o tratamento). Homens, entendam-nas (as mulheres) e não julguem aquilo que não experimentam.

E a todo o pessoal que acompanha o trabalho dos jornalistas: nós passamos por cada coisa “normal” que vocês nem imaginam, até mesmo em meio a toda a finesse monegasca.