O que eu não contei: GP do Brasil 2012

Durante a temporada 2013 de Fórmula 1, publico aqui no ENTRELACE alguns textos narrando episódios pessoais sobre os quais não tive a oportunidade de escrever enquanto cobria a temporada 2012, no mais das vezes por causa da correria que me fez dar conta da rádio Estadão/ESPN, revista ESPN, site Tazio, meu blog e o blog Acelerando com Bruno Senna (os dois últimos, dentro do Tazio).

Quem olha de fora e à distância só vê o resultado. É natural, ninguém exige que seja o contrário. E a verdade é que eu fico mais feliz quando o ouvinte não percebe que eu estou com dor de cabeça, vontade de fazer xixi, fome e sono durante uma transmissão ao vivo. Porque a parte mais legal dos finais de semana da temporada que eu cobri eram as transmissões ao vivo no domingo, não tenham dúvidas.

Só que o domingo é o último dia da semana de GP. Você chega ao domingo já tendo usado toda a energia que você tinha e não tinha, e, ainda assim, sem dó, ele é o dia mais importante. Você drenou sua energia apenas para poder chegar ao domingo, a cada um dos 20 domingos. Da mesma maneira, fim de temporada é doloroso: o cansaço acumulado faz com que tudo o que você queira seja a sua casa por mais de oito dias seguidos (dos quais você passou, em média durante o ano, três como um zumbi se recuperando da corrida anterior). Continuar lendo

O que eu não contei: GP dos Estados Unidos 2012

Durante a temporada 2013 de Fórmula 1, publico aqui no ENTRELACE alguns textos narrando episódios pessoais sobre os quais não tive a oportunidade de escrever enquanto cobria a temporada 2012, no mais das vezes por causa da correria que me fez dar conta da rádio Estadão/ESPN, revista ESPN, site Tazio, meu blog e o blog Acelerando com Bruno Senna (os dois últimos, dentro do Tazio).

Mais uma temporada de Fórmula 1 vai terminando, a 64ª da história, a sétima desde que comecei a acompanhar como jornalista, in loco ou à distância. Por conta da correria da vida (e possivelmente um equívoco de priorização meu), não escrevi todos os “O que eu não contei” que gostaria, mas como consegui vir para Interlagos ao menos neste sábado e domingo de GP do Brasil 2013, não tenho porque jogar a oportunidade fora, certo? Este post tinha começado como “O que eu não contei: GP do Brasil 2012”, mas precisava contar o capítulo anterior…

No ano passado, cheguei a São Paulo um dia atrasada depois de perder o voo de Dallas para cá. O GP de Austin havia sido disputado no domingo imediatamente anterior. Saí da cidade  seis horas antes do voo com meu carrinho alugado e as duas malas no limite de peso, exatos 32kg cada, carregando minha mudança de Barcelona para São Paulo. Austin fica a aproximadamente três horas de Dallas e, por isso, as seis horas me pareciam mais do que suficientes para chegar ao aeroporto e ainda curtir um lounge de companhia aérea (ui!). Continuar lendo

O que eu não contei: GP de Mônaco 2012

Durante a temporada 2013 de Fórmula 1, publico aqui no ENTRELACE alguns textos narrando episódios pessoais sobre os quais não tive a oportunidade de escrever enquanto cobria a temporada 2012, no mais das vezes por causa da correria que me fez dar conta da rádio Estadão/ESPN, revista ESPN, site Tazio, meu blog e o blog Acelerando com Bruno Senna (os dois últimos, dentro do Tazio).

A cobertura do GP de Mônaco foi, de longe, a mais caótica do ano. Eu vou contar o motivo agora e talvez vocês riam ou pensem: “A Vanessa, sempre tão discreta, está ficando louca!”. Mas eu conto o motivo porque tem coisas, como a morte, sobre as quais não adianta deixar de falar. Elas existem, podem ser incontroláveis e, às vezes, atrapalham todos os planos. A TPM, ou tensão pré-menstrual, é uma delas. E, no caso, é também uma questão extremamente feminina — como eu trabalho num meio ainda muito masculino, é natural que assuntos do tipo virem tabu ou provoquem risinhos como se nós todos vivêssemos eternamente numa sala do colegial.

A tal da TPM, não a TPM, é o inferno na Terra principalmente por um motivo: nem sempre a gente percebe que está sofrendo dela. No meu caso, eu costumo me dar conta no dia seguinte a um episódio de ódio mortal injustificado, por exemplo.

O GP de Mônaco do ano passado foi muito emocionante por causa disso, perguntem aos meus colegas de trabalho Diogo Kotscho, Rodrigo França e Gary Meenaghan. Foi depois desta corrida, aliás, que mr. Meenaghan foi apelidado por mr. Kotscho de “meu herói”.

Teve debate na sala de imprensa:

— Não grita.

— mAS eU NÃo TO GRITANNNNdo!!!

Teve uma multa na volta da festa no barco do dono da Force India (TPM, transformando o glamour em micão):

— Por que você está se segurando no carro?

— Por nada.

— Você não confia na minha direção?

— Claaaaro que sim, imagina.

Mas a parte mais UHU! foi o fora que sir Frank Williams (me) deu na coletiva de imprensa da FIA. E olha que eu não provoquei, não. Foi realmente um brinde para testar meu peculiar estado hormonal. Só que ele veio pedir desculpas depois, é verdade. [Leia a história aqui no ENTRELACE.]

Foi um final de semana realmente animado, ainda que o trabalho não tenha sido prejudicado. Mas eu entendo que ainda agora você esteja se perguntando: “Por que cargas d’água a Vanessa está escrevendo sobre isso?”. Eu respondo melhor.

É porque eu sou uma mulher trabalhando num meio masculino, escrevendo para uma audiência composta majoritariamente por homens e, infelizmente, ainda tem muito homem que acha que TPM não existe, que é frescura, que é invenção. Acreditem em mim: não é. E é grave, mas felizmente tem tratamento. Mulheres, procurem-no (o tratamento). Homens, entendam-nas (as mulheres) e não julguem aquilo que não experimentam.

E a todo o pessoal que acompanha o trabalho dos jornalistas: nós passamos por cada coisa “normal” que vocês nem imaginam, até mesmo em meio a toda a finesse monegasca.

Tirando a Red Bull do pedestal

Toda a alegria deste pódio bacana no GP da Malásia 2013 (Getty Images/Mark Thompson)

Toda a alegria deste pódio bacana no GP da Malásia 2013 (Getty Images/Mark Thompson)

O GP da Malásia terminou e o que ficou, mais uma vez, foram as discussões sobre fatores extrapista que interferem — e muito — no resultado das disputas na Fórmula 1. Nas últimas 24 horas, a desobediência de Sebastian Vettel a uma ordem de equipe tem gerado opiniões controversas.

O tricampeão ultrapassou seu companheiro de Red Bull, Mark Webber, num momento em que a equipe já havia avisado aos dois que as coisas deveriam ser mantidas como estavam (Webber em primeiro e Vettel em segundo) até o fim da prova, após o último pitstop de ambos. Para aproveitar e “economizar” o motor, levando em conta que os 43 pontos (25 do primeiro e 18 do segundo colocado) estavam praticamente garantidos para a equipe, foi passado a ambos os pilotos a orientação de reduzir a potência. Ao que parece, Vettel não só não o fez como ainda foi para cima com um carro que estava, obviamente, mais forte naquele momento e conseguiu a ultrapassagem para conquistar sua 27ª vitória na F1.

Ficou feio para Vettel, é verdade. Ele fez um pedido de desculpas atrás do outro desde o momento em que cruzou com Webber após a prova e entendeu o que estava acontecendo. Webber respondeu com uma série de declarações amargas, das quais a que mais me chamou a atenção foi: “Seb tomou suas próprias decisões hoje e será protegido, e é assim que a coisa funciona” (no original em inglês: “Seb made his own decisions today and will have protection, and that’s the way it goes”).

Depois desta introdução, finalmente chego àquele que é meu ponto neste post: qual parte de “a Red Bull faz jogo de equipe como qualquer outra” o pessoal se recusa a entender? Assistindo à reprise da prova, ouvi o narrador dizer, em algum dos momentos em que Vettel tentava atacar Webber, que era bonito ver a Red Bull deixando seus pilotos brigarem na pista. O que pouca gente sabia naquele momento é que não, a Red Bull não estava deixando seus pilotos brigarem na pista. O que acontece é que Vettel tem sede de vitória demais para obedecer. Além do mais, é facil entender que, para o alemão tricampeão, não deve ser muito normal receber ordens para proteger Webber, enquanto o contrário costuma acontecer com frequência bem maior.

Uma fala do chefe de equipe Christian Horner, ao ser questionado sobre uma possível nova ordem para que Vettel devolvesse o lugar a Webber, resumiu bem o espírito: Vocês realmente acham que, se disséssemos a ele para diminuir o ritmo e devolver a posição, ele o teria feito? Não adiantaria. Ele deixou bem clara a sua intenção ao fazer a manobra [de ultrapassagem]. Ele sabia qual era o comunicado. Ele tinha sido comunicado. Ele escolheu ignorá-lo. Ele colocou seu interesse acima da posição que ocupa no time.Ele estava focado naquela diferença de oito pontos entre segundo e primeiro lugar — o que foi um erro. E ele aceitou que foi um erro”.

Sim, Vette deu uma de menino mimado, mas há alguns anos eu venho dizendo isso e, não que eu tenha discutido o tema com tanta gente assim, mas encontrar pelo menos um jornalista com mais de vinte anos de F1 que pensa o mesmo que eu me fez diminuir a sensação de que nado (ou “viajo”) contra a maré a cada vez que afirmo que a Red Bull não é “a boazinha”, não é “a descolada”, mas passa essa imagem de santidade porque sabe fazer as coisas com muito mais inteligência e discrição do que uma Ferrari desajeitada, por exemplo.

Leia aqui, em PDF, um texto publicado na finada revista ESPN sobre jogo de equipe na Red Bull.

Aproveitando o ensejo, deixo a íntegra em inglês das entrevistas pós-prova com o top 3 (Sebastian Vettel, Mark Webber e Lewis Hamilon) do GP do Malásia. Tem ainda o recém-chegado na Mercedes, Hamilton, com vergonha do terceiro lugar garantido por um companheiro mais afável do que Vettel costuma ser para Webber, Nico Rosberg.

PODIUM INTERVIEWS

(Conducted by Martin Brundle)

We’re going to start with Sebastian. That’s your 27th victory. You now match Sir Jackie Stewart with that but it looked pretty close out there on laps 43 and 44, take us through that.

Sebastian VETTEL: Obviously it was very close wheel-to-wheel racing. I think there wasn’t much room for either of us so obviously it was a tight battle. I think probably I was a little bit too keen too soon because I obviously in terms of strategy was on the soft tyre towards the end, on the softer compound, felt I had a little bit more, so yeah, obviously enjoyed the fight, had the upper hand in the end. Throughout the whole race it was very close. Mark was always a little bit ahead – I was stuck in traffic. In the middle of the race I wasn’t quite sure about the strategy but towards the end it seems to work very well because we were able to save that extra set and it came off with a little bit more speed.

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Letras miúdas para proteger a Mercedes

Cheguei a este post do Joe Saward, colega de sala de imprensa da Fórmula 1, através deste RT:

Kate, outra colega de lá, resumiu bem com um “uau” o sentimento provocado pela leitura.

O que Joe bloga aqui são as ‘”letras miúdas” das notas que a equipe Mercedes (de Lewis Hamilton e Nico Rosberg) manda para a imprensa, e que têm como objetivo proteger a equipe de quaisquer encrencas legais. Só que o escopo de “insenções de responsabilidade” é tão extenso que causa espanto. Segue um trecho traduzido.

Este documento contém afirmações de previsão que refletem nossa visão atual de eventos futuros. As palavras ‘antecipar’, ‘assumir’, ‘acreditar’, ‘estimar’, ‘esperar’, ‘ter a intenção de’, ‘poder’, ‘planejar’, ‘dever’ e expressões similares são usadas para identificar afirmações de previsão. Estas afirmações estão sujeitas a vários riscos e incertezas, incluindo desenvolvimento adverso de condições econômicas globais, em particular um declínio da demanda em nossos mercados mais importantes; uma piora da crise de débito-soberano na zona do euro; a deterioração das nossas possibilidades de suporte financeiro nos mercados de crédito e financeiro; eventos de ‘force majeure’ incluindo desastres naturais, atos de terrorismo, agitação política, acidentes industriais e seus efeitos nas nossas vendas, compras, produção ou atividades financeiras; etc