O GP da Malásia terminou e o que ficou, mais uma vez, foram as discussões sobre fatores extrapista que interferem — e muito — no resultado das disputas na Fórmula 1. Nas últimas 24 horas, a desobediência de Sebastian Vettel a uma ordem de equipe tem gerado opiniões controversas.
O tricampeão ultrapassou seu companheiro de Red Bull, Mark Webber, num momento em que a equipe já havia avisado aos dois que as coisas deveriam ser mantidas como estavam (Webber em primeiro e Vettel em segundo) até o fim da prova, após o último pitstop de ambos. Para aproveitar e “economizar” o motor, levando em conta que os 43 pontos (25 do primeiro e 18 do segundo colocado) estavam praticamente garantidos para a equipe, foi passado a ambos os pilotos a orientação de reduzir a potência. Ao que parece, Vettel não só não o fez como ainda foi para cima com um carro que estava, obviamente, mais forte naquele momento e conseguiu a ultrapassagem para conquistar sua 27ª vitória na F1.
Ficou feio para Vettel, é verdade. Ele fez um pedido de desculpas atrás do outro desde o momento em que cruzou com Webber após a prova e entendeu o que estava acontecendo. Webber respondeu com uma série de declarações amargas, das quais a que mais me chamou a atenção foi: “Seb tomou suas próprias decisões hoje e será protegido, e é assim que a coisa funciona” (no original em inglês: “Seb made his own decisions today and will have protection, and that’s the way it goes”).
Depois desta introdução, finalmente chego àquele que é meu ponto neste post: qual parte de “a Red Bull faz jogo de equipe como qualquer outra” o pessoal se recusa a entender? Assistindo à reprise da prova, ouvi o narrador dizer, em algum dos momentos em que Vettel tentava atacar Webber, que era bonito ver a Red Bull deixando seus pilotos brigarem na pista. O que pouca gente sabia naquele momento é que não, a Red Bull não estava deixando seus pilotos brigarem na pista. O que acontece é que Vettel tem sede de vitória demais para obedecer. Além do mais, é facil entender que, para o alemão tricampeão, não deve ser muito normal receber ordens para proteger Webber, enquanto o contrário costuma acontecer com frequência bem maior.
Uma fala do chefe de equipe Christian Horner, ao ser questionado sobre uma possível nova ordem para que Vettel devolvesse o lugar a Webber, resumiu bem o espírito: “Vocês realmente acham que, se disséssemos a ele para diminuir o ritmo e devolver a posição, ele o teria feito? Não adiantaria. Ele deixou bem clara a sua intenção ao fazer a manobra [de ultrapassagem]. Ele sabia qual era o comunicado. Ele tinha sido comunicado. Ele escolheu ignorá-lo. Ele colocou seu interesse acima da posição que ocupa no time.Ele estava focado naquela diferença de oito pontos entre segundo e primeiro lugar — o que foi um erro. E ele aceitou que foi um erro”.
Sim, Vette deu uma de menino mimado, mas há alguns anos eu venho dizendo isso e, não que eu tenha discutido o tema com tanta gente assim, mas encontrar pelo menos um jornalista com mais de vinte anos de F1 que pensa o mesmo que eu me fez diminuir a sensação de que nado (ou “viajo”) contra a maré a cada vez que afirmo que a Red Bull não é “a boazinha”, não é “a descolada”, mas passa essa imagem de santidade porque sabe fazer as coisas com muito mais inteligência e discrição do que uma Ferrari desajeitada, por exemplo.
Leia aqui, em PDF, um texto publicado na finada revista ESPN sobre jogo de equipe na Red Bull.
Aproveitando o ensejo, deixo a íntegra em inglês das entrevistas pós-prova com o top 3 (Sebastian Vettel, Mark Webber e Lewis Hamilon) do GP do Malásia. Tem ainda o recém-chegado na Mercedes, Hamilton, com vergonha do terceiro lugar garantido por um companheiro mais afável do que Vettel costuma ser para Webber, Nico Rosberg.
PODIUM INTERVIEWS
(Conducted by Martin Brundle)
We’re going to start with Sebastian. That’s your 27th victory. You now match Sir Jackie Stewart with that but it looked pretty close out there on laps 43 and 44, take us through that.
Sebastian VETTEL: Obviously it was very close wheel-to-wheel racing. I think there wasn’t much room for either of us so obviously it was a tight battle. I think probably I was a little bit too keen too soon because I obviously in terms of strategy was on the soft tyre towards the end, on the softer compound, felt I had a little bit more, so yeah, obviously enjoyed the fight, had the upper hand in the end. Throughout the whole race it was very close. Mark was always a little bit ahead – I was stuck in traffic. In the middle of the race I wasn’t quite sure about the strategy but towards the end it seems to work very well because we were able to save that extra set and it came off with a little bit more speed.