O que eu não contei: GP de Mônaco 2012

Durante a temporada 2013 de Fórmula 1, publico aqui no ENTRELACE alguns textos narrando episódios pessoais sobre os quais não tive a oportunidade de escrever enquanto cobria a temporada 2012, no mais das vezes por causa da correria que me fez dar conta da rádio Estadão/ESPN, revista ESPN, site Tazio, meu blog e o blog Acelerando com Bruno Senna (os dois últimos, dentro do Tazio).

A cobertura do GP de Mônaco foi, de longe, a mais caótica do ano. Eu vou contar o motivo agora e talvez vocês riam ou pensem: “A Vanessa, sempre tão discreta, está ficando louca!”. Mas eu conto o motivo porque tem coisas, como a morte, sobre as quais não adianta deixar de falar. Elas existem, podem ser incontroláveis e, às vezes, atrapalham todos os planos. A TPM, ou tensão pré-menstrual, é uma delas. E, no caso, é também uma questão extremamente feminina — como eu trabalho num meio ainda muito masculino, é natural que assuntos do tipo virem tabu ou provoquem risinhos como se nós todos vivêssemos eternamente numa sala do colegial.

A tal da TPM, não a TPM, é o inferno na Terra principalmente por um motivo: nem sempre a gente percebe que está sofrendo dela. No meu caso, eu costumo me dar conta no dia seguinte a um episódio de ódio mortal injustificado, por exemplo.

O GP de Mônaco do ano passado foi muito emocionante por causa disso, perguntem aos meus colegas de trabalho Diogo Kotscho, Rodrigo França e Gary Meenaghan. Foi depois desta corrida, aliás, que mr. Meenaghan foi apelidado por mr. Kotscho de “meu herói”.

Teve debate na sala de imprensa:

— Não grita.

— mAS eU NÃo TO GRITANNNNdo!!!

Teve uma multa na volta da festa no barco do dono da Force India (TPM, transformando o glamour em micão):

— Por que você está se segurando no carro?

— Por nada.

— Você não confia na minha direção?

— Claaaaro que sim, imagina.

Mas a parte mais UHU! foi o fora que sir Frank Williams (me) deu na coletiva de imprensa da FIA. E olha que eu não provoquei, não. Foi realmente um brinde para testar meu peculiar estado hormonal. Só que ele veio pedir desculpas depois, é verdade. [Leia a história aqui no ENTRELACE.]

Foi um final de semana realmente animado, ainda que o trabalho não tenha sido prejudicado. Mas eu entendo que ainda agora você esteja se perguntando: “Por que cargas d’água a Vanessa está escrevendo sobre isso?”. Eu respondo melhor.

É porque eu sou uma mulher trabalhando num meio masculino, escrevendo para uma audiência composta majoritariamente por homens e, infelizmente, ainda tem muito homem que acha que TPM não existe, que é frescura, que é invenção. Acreditem em mim: não é. E é grave, mas felizmente tem tratamento. Mulheres, procurem-no (o tratamento). Homens, entendam-nas (as mulheres) e não julguem aquilo que não experimentam.

E a todo o pessoal que acompanha o trabalho dos jornalistas: nós passamos por cada coisa “normal” que vocês nem imaginam, até mesmo em meio a toda a finesse monegasca.

“Climão” em casa espera dono da Force India

Vijay Mallya é um dos maiores empresários indianos. Índia, economia que cresce em taxa acelerada, parte do Bric — grupo que tem também Brasil, Rússia e China, considerados os quatro países emergentes com maior potencial de desenvolvimento econômico.

Por aqui, Mallya, que acaba de ser rebaixado de bi para milionário, tem sido o grande assunto do noticiário. Na semana passada, teve um mandado de prisão expedido pelas autoridades indianas por causa de dívidas de sua companhia aérea, a Kingfisher Airlines, mas o mandado foi revogado. Na terça-feira, a manchete em uma das emissoras de TV era: “Vijay Mallya deve comparecer ao Grande Prêmio da Índia de F1″, e a âncora explicava que era provável que Mallya fosse de helicóptero para evitar protestos dos funcionários da Kingfisher Airlines, já que boa parte deles não recebe salários há sete meses.

Uma pequena vitória, Vijay obteve nestes dias: os funcionários anunciaram o fim da greve que vinha se arrastando durante o mês com um discurso de confiança em seu empregador. O acordo é de que eles receberão pelo menos quatro meses de salários atrasados até o final do ano. E fala-se em “vitória” porque o que ele queria era justamente um arrefecimento da tensão antes do GP da Índia, importante para um de seus outros negócios: sua equipe de F1, a Force India.

No paddock, os pilotos da equipe evitaram se manifestar sobre os problemas do chefe. A única coisa dita foi que os pilotos ainda não tinham se encontrado com Mallya nesta semana, apesar de tanto Paul di Resta quanto Nico Hulkenberg estarem aqui desde a segunda-feira cumprindo compromissos com patrocinadores locais.

Mais de uma vez, Mallya já disse em entrevistas coletivas dentro do ambiente da F1 que seus negócios sobrevivem de maneira independente uns dos outros e que a Force India não seria afetada pela crise na Kingfisher Airlines e seus aviões parados em aeroportos ao redor do mundo (a companhia perdeu neste mês a licença para voar). Mas, no mundo dos negócios, é sabido que as coisas não funcionam assim: escândalos sempre respingam em outras unidades de negócio quando há algum tipo de conexão. No caso de Vijay, colabora o fato de ele ser uma figura ligeiramente polêmica aqui na Índia, com fama de bon-vivant num país em que a pobreza ainda salta aos olhos, autointitulado “rei dos bons momentos”.

Na Force India, o panorama para 2013 ainda é incerto. Não é a única equipe com dificuldades financeiras, mas é uma delas. O nome de Nico Hulkenberg tem sido ventilado na Sauber, que dispensaria Kamui Kobayashi depois de já ter confirmada a saída de Sergio Perez (o jovem mexicano vai para a McLaren em 2013), e alçaria Esteban Gutierrez ao outro posto de titular. Precisando de dinheiro, não cairia mal para a Force India um piloto que levasse patrocinadores — Kobayashi é um dos que sabe disso e confirmou nesta quinta-feira que está trabalhando duro para conseguir verba que o mantenha na F1. No entanto, por ora, tudo não passa de especulação.

O “climão” que envolve Vijay Mallya, dono de uma equipe que mostra potencial para escalar o pelotão e até vencer corridas nos próximos anos, já é uma das pimentas deste final de semana que apenas começa em Greater Noida.

Glamour em Mônaco? Sim… e não

Festa na curva Rascasse, em Mônaco (Vanessa Ruiz)

Festa na curva Rascasse, em Mônaco (Vanessa Ruiz)

O GP de Mônaco é tido como o mais glamuroso da temporada de F1. Em sua 59ª edição, a prova mantém, ano após ano, o clima de total dedicação do principado à corrida.

A imagem que o GP de Mônaco passa para quem não tem a oportunidade de acompanhar a corrida de perto é, no entanto, muito mais “asséptica”, muito mais burocrática do que aquilo que se vê nas ruas entre quarta-feira e domingo.

Mônaco realmente vive a F1. O próprio fato de as ruas que formam a pista serem algumas das principais por aqui fazem com que tudo gire em torno do evento.

Toda noite, ao contrário de outros circuitos de rua, a pista é aberta e o público toma as ruas onde os pilotos voltam a passar em poucas horas. A curva Rascasse é onde rola o movimento maior. Restaurantes, casas noturnas e festas na própria pista dividem a atenção dos locais e dos visitantes.

Ao contrário das fotos que acabam chegando para o resto do mundo, o clima é relativamente descontraído justamente pela liberdade de caminhar pela área. É possível curtir a música sem precisar entrar no local isolado pelo gradil, por exemplo, apenas permanecendo em frente, na rua.

É claro que há também as festas nos iates, mais exclusivas. Mas ainda assim é possível comprovar, ali mesmo da Rascasse, que a diversão rola e que, de chata, Mônaco tem muito pouco — talvez o trânsito e a truculência verbal e física dos policiais possam ser pontos contra.

As festas mais concorridas são as da Amber Lounge, que acontecem também em Cingapura, Delhi e Abu Dhabi. A festa no barco de VJ Mallya, dono da Force India, também atrai o pessoal da F1. Não é tão fácil assim conseguir um convite, embora dê para ver os desejados envelopes rolando de mão em mão no paddock.

Em festas como a de VJ, os convidados costumam ser bem comportados, embora não hesitem em se divertir. Na rua, às vezes é preciso a intervenção da polícia, como ontem, quando três pessoas que estavam na Rascasse foram jogadas no chão, algemadas e levadas por policiais. A ação toda durou cerca de 15 minutos, durante os quais uma leva de policiais se encarregava de fazer um cordão de isolamento de modo que, em alguns momentos, não fosse possível ver exatamente o que a polícia fazia com os que seriam presos.

Olhando de perto, esta parte extra-pista do GP de Mônaco é mais bacana do que parece à distância, justamente por conta desse lado menos “fake”, mais autêntico que é possível encontrar longe de tapetes vermelhos e poses forçadas para as câmeras.

Publicado originalmente em http://tazio.uol.com.br/blog/blog-da-vanessa-ruiz/glamour-em-monaco-sim-e-nao/