Palavras e o porquê de aprender línguas

NARIZ DE CERA (leitura recomendada, é claro):

Aconteceu muita, muita coisa por aqui hoje. Fica quase impossível relatar tudo — nem tanto pela quantidade de conteúdos, mas porque cada tema é capaz de gerar um debate extenso. Escrever sobre cada um deles levando em conta apenas uma perspectiva seria pouco. Mas, de repente, pode ser que isso seja tudo o que eu consiga fazer. Veremos.

Antes, um pensamento que veio enquanto eu assistia a uma masterclass para os estudantes que estão por aqui, uma aula especial, um diálogo voltado para esta turma.

Como a aula aconteceria entre o almoço e a sessão vespertina do programa oficial, acabei esquecendo dela (eu como… bem… devagar); só percebi que o tinha feito quando passei pela porta e vi a molecada reunida em círculo.

Não querendo atrapalhar o que já havia sido criado ali em termos de confiança e conexão, sentei fora da roda e fiquei só observando. Até que a professora que estava facilitando o encontro propôs um jogo simples que ia ajudá-los a se apresentarem uns aos outros. 

Cada um pegava três cartões com palavras que descreviam qualidades. A tarefa era tentar trocar com os outros até ficar com três que tivessem a ver com você. Ela me convidou a participar e eu aceitei.

O fato de eu não conseguir sacar se alguns adjetivos tinham conotação positiva ou negativa mesmo falando um inglês bem decente me fez pensar no seguinte:

LEAD:

Palavras são mais que uma definição de dicionário. Além do peso que cada palavra adquire de acordo com a bagagem pessoal de cada palavreiro, o uso das palavras carrega um componente cultural muito forte. Fora o fato de que muitas são intraduzíveis — é quase um pecado tentar fazer essa substituição simplista em alguns casos.

Quando as pessoas me perguntam por que razão eu gosto tanto de estudar e aprender línguas, costumo dizer que é porque com o idioma vem o entendimento do modo de pensar de um determinado povo. Compreender a construção do raciocínio, a gramática, é uma forma de entrar num universo antes totalmente estranho. (E, particularmente, acho fascinante. Espero poder saciar essa fome com muitos sabores diferentes até o fim dessa vida.)

A partir de hoje, no entanto, eu tenho algo a acrescentar à resposta quase que já decorada. É o seguinte: cada vez que eu aprendo uma língua nova, palavras e expressões, é como se eu acrescentasse uma quantidade imensa de novos tons à minha paleta de cores. Essas palavras que não têm tradução, por mais que eu não possa usá-las constantemente num texto em português sob risco de soar pedante — ou de muitos não compreenderem e ponto final –, me ajudam internamente a entender melhor qual é o sentimento, qual é a sensação, qual é a ideia.

Muita gente pergunta “como é que se consegue” estudar línguas tão diferentes. Acho que não tem segredo, não. Mas é preciso se desgarrar do território conhecido e não tentar relacionar as novidades com a sua língua mãe, por exemplo — essa é a maior armadilha. É meio que como a vida, no fim das contas. O novo só vem quando se abre mão do velho.

Entre na conversa (linguagem abusiva e ofensas não serão toleradas):