Jornalismo: acaba ou não acaba, e em defesa da sua essência

Mais para o começo do mês, com as demissões no Estadão e o plano de redução do jornal (que não se pronunciou publicamente), rolou um debate no Twitter sobre a diferença entre “fim do jornal” e “fim do jornalismo”. Tudo acabou reduzido a uma sequência de tweets de 140 caracteres e uso agora este post para ocupar um pouco mais de espaço que isso.

Depois da volta ao Brasil, tenho aproveitado para encontrar muita gente que não via há tempos, nem quando ainda estava aqui. Estas experiências têm sido ótimas, principalmente os reencontros com ex-colegas de trabalho, de faculdade, ex-chefes, porque tomam forma de descoberta do que o Jornalismo tem sido para eles.

Algumas sensações me parecem generalizadas, principalmente a de que o mercado está ruim e tende a piorar.

O tweet abaixo resume bem a cadeia de contrapontos e reflexões que tenho feito neste retorno, um momento em que estou, pela primeira vez na minha não tão longa e nem tão curta carreira, trabalhando longe de uma redação.

Para mim, Jornalismo é apaixonante. O de verdade, aquele feito com afinco, com dedicação de tempo e recursos financeiros também. O Jornalismo tem uma função social difícil de substituir, que é a de revelar. E revelar não é um trabalho que se faz manchetando acriticamente meia dúzia de aspas recolhidas em dez minutos. Revelar requer estudo, planejamento, “rua”, perspicácia e capacidade de transmitir conhecimento organizado, seja para contar a história incrível de uma pessoa desconhecida ou expor um esquema de corrupção.

Se qualquer um pode fazer Jornalismo é uma outra questão — qualquer um com dom e ética pode fazer bem qualquer coisa com a qual seu dom se relacione, seja no Twitter, num blog ou num jornal de papel. No entanto, cidadão compartilhando informação é uma coisa (muito rica), jornalista trabalhando com afinco para reunir informações, dar sentido a elas e levá-las a conhecimento público é outra, sempre vai ser outra.

Por isso, estou na turma que não acha, mas tem certeza de que o Jornalismo não vai acabar. Ainda que um dia todos os jornais deixem de ser publicados em papel ou que os portais (brasileiros, mais especificamente) abram mão do mínimo de dignidade que ainda sobrou.

O que precisamos é descobrir novas formas de “monetizar”, “rentabilizar” ou simplesmente “viver de” Jornalismo. Não tenho a receita, tenho apenas muita leitura sobre modelos de negócio que estão sendo testados em outros países e minha intuição alimentada por algumas experiências bem práticas — sobre tudo isso, espero falar em outros posts.

Neste momento de transição de formatos e também dos tipos de associação entre Jornalismo e outras áreas, as receitas certamente são muitas. O ato de descobri-las já está fluindo do desapego das formas envelhecidas, ultrapassadas, porque a essência tem valor, tem demanda e permanece.

Termino o post como comecei…

E na categoria inspiração, fica aqui a participação de Eliane Brum no Provocações, que a TV Cultura andou reprisando. Dos vários tipos de Jornalismo que podem ser feitos, o que ela faz é aquele com o qual mais me identifico.

Fátima ajuda mesmo sem enfiar a mão inteira no vespeiro

Estava assistindo ao Encontro com Fátima Bernardes agora de manhã, programa que já vi algumas outras vezes e que, por estas poucas experiências, me deu a impressão de ser uma coisa meio perdida na programação da TV Globo. A edição de hoje, no entanto, foi bem interessante.

A Globo convidou o deputado Jean Wyllys, representando a comunidade LGBT, e famílias que viveram a experiência de ter um filho “saindo do armário”, alguns com mais e outros com menos amor. Meu combustível, o que me fez escolher o Jornalismo e me faz continuar sendo jornalista apesar das dificuldades é exatamente isso: histórias de gente, inspiradoras ou que precisem ser denunciadas. E o Encontro de hoje fez, nesta linha, uma função bacana levando em conta o tamanho da audiência da TV Globo.

Foi contada a história da garota cuja mãe até hoje não a aceita, da menina que teve que encarar o enfarto da avó quando contou a verdade numa explosão, do pai que botou o filho na parede para que ele assumisse e pudesse, finalmente, receber o amor pleno que seu pai nunca se negaria a dar.

É tão raro que emissoras grandes topem colocar a mão no vespeiro aqui no Brasil que, quando uma o faz e por uma causa boa — respeito e boa convivência, neste caso — chama a atenção. Ninguém falou o nome do “pastor” Marco Feliciano e, por isso, não dá pra dizer que a mão inteira foi enfiada no vespeiro, mas o assunto foi abordado de forma eficiente: em vez de entrar de peito na polêmica e gerar rejeição de imediato em parte da audiência, o programa preferiu mexer com o cerne da questão, que é a intolerância.

Gosto de pensar em iniciativas assim como sementes que se planta dentro de quem lê, ouve ou assiste. Pode não desabrochar de imediato, mas a semente foi plantada e sempre haverá chance de que germine.

Quando eu disse “menos amor”, aí para cima, quis dizer, na verdade, amor sufocado. Sufocado, talvez, por um certo egoísmo que faça com que pais “desamem” seus filhos simplesmente porque eles não preenchem as projeções que começaram a ser criadas antes mesmo do nascimento, projeções tolas que aprisionam estes pais a ponto de eles se deixarem fechar para um dos amores mais bonitos que existe, um dos mais incondicionais.

Um caso de pedofilia. Quais são os limites do "conta-clique"?

No fim do mês de agosto, descobri um álbum no site Vírgula, parceiro do UOL através de uma notícia sobre a polêmica em torno de anúncio de lingerie que usavam crianças como modelo. O Vírgula, optou por criar um álbum com as oito fotos, que ganhou vida própria e virou um monstro — não tenho palavra melhor para descrever.

No dia em que descobri o álbum, fiz um chamado no Twitter para que as pessoas me ajudassem a denunciar principalmente por conta dos comentários agressivamente pedófilos que proliferavam por ali. Denunciei através de um link do próprio UOL que me foi passado por um tuiteiro (https://denuncia.uol.com.br/) e fui ao site da Polícia Federal em seguida (http://denuncia.pf.gov.br/), categorizando o caso como “pornografia infantil”. Tem ainda o Ministério Público (http://www.prsp.mpf.gov.br/noticias-prsp/aplicativos/digi-denuncia) para estes casos.

Alguns minutos depois, os comentários de teor pedófilo foram apagados pelo administrador do site. Tenho três printscreens guardados. Não vou colocá-los aqui porque entendo que não há necessidade, mas garanto que são nojentos.

O álbum continua no ar no Vírgula com o título “Lingerie para Crianças” e data de publicação de 17/08/2011, às 8h00. Há ainda pelo menos um comentário com claro teor pedófilo, embora utilize uma espécie de “código interno” dessa turma doente — talvez por isso ainda não tenha sido apagado. O último comentário, revoltado com as manifestações de pedofilia, data de 21/09/2011, ou seja, publicado há uma semana. Na notícia em si, o mais recente é de 24/09/2011.

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A coisa está feia… e o "average American" sabe

O orgulho ainda resiste, mas parece que o encanto não está mais lá. Foi esta a sensação que tive ao conversar com um bunch de average Americans durante a passagem pelas Catskill Mountains de Nova York, no meio do mês.

Os efeitos do aumento do número de americanos vivendo abaixo da linha da pobreza, muito embora a pobreza deles equivalha à nossa classe C, estão se espalhando feito água de enxurrada e uma escara está sendo aberta na autoestima de boa parte da população.
Não me lembro exatamente quando foi que eu ouvi a expressão “average American” pela primeira vez. Deve ter sido em notícia sobre algum estudo; isso é termo de pesquisa, mas ela soa de uma forma que me atrai. “Brasileiro médio” não tem o mesmo efeito (o certo seria “mediano”, mas aí é que a coisa desceria pelo barranco sócio-semântico de vez). Enfim. É a conversa com um destes “average Americans” que conto neste post.