Finalmente um e-mail esclarecedor da FIFA sobre ingressos

ingressos fifa

A FIFA enviou hoje um e-mail a quem comprou ingressos para os jogos da Copa do Mundo no Brasil. E o e-mail coloca as regras sobre “o que você pode e não pode fazer com seu ingresso” de uma forma muito, muito mais clara do que nos momentos antes ou durante a compra. Nenhuma das minhas consultas às áreas do site da FIFA que versavam sobre o tema terminou com a sensação de: “Ahhhhh, aí sim, entendi tudo”.

Mas agora que eu já comprei os ingressos às cegas num processo tão confuso a ponto de eu achar que não tinha conseguido completá-lo, a FIFA veio e me explicou tudinho.

Valeu, FIFA! Se você tivesse descrito tudo assim tão lindamente antes da minha compra, ela talvez não tivesse sido realizada. Mas acho que você sabia, né? E eu deixei você me pegar.

Veja abaixo a íntegra do e-mail com as regras para transferência e revenda de ingressos, etc: Continuar lendo

Aldo Rebelo no/numa Roda Viva

A TV Cultura já publicou no perfil do programa Roda Viva no YouTube a participação do ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, que foi ao ar nesta segunda-feira à noite. Não pude assistir porque estava em aula (fazendo lição, trabalho em grupo, essas coisas todas que aula envolve — confesso que estava com saudades, viu).

Também ainda não terminei de assistir aos dois blocos que já posto abaixo. Por isso, vamos combinar o seguinte: nós, que ainda não vimos, vamos assistindo e, ao terminar, voltamos aqui para deixar nossas impressões. As que já li — e vocês também devem ter lido — foram péssimas.

Ministro Aldo Rebelo falou sobre os últimos preparativos para a Copa das Confederações, que acontece entre 15 e 30 de junho deste ano. A Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro também entram na pauta.

Previously on the #WorldCup… (homenagem ao #uru)

Uma homenagem a Suárez, que hoje não joga porque levou cartão vermelho, mas fez a melhor defesa da história das Copas (ou quase isso). O erro de Gana na cobrança do pênalti, resultado da marcação da irregularidade, ajudou o Uruguai a passar para as semifinais como não fazia desde 1970.

E outra homenagem a Abreu, el Loco, que foi sacado do time por uma decisão de Oscar Tabarez. Esta sim, de verdade, a cavadinha mais corajosa da história das Copas: no último pênalti da disputa por pênaltis.

 

Complemento às 17h45: Em tendo o Uruguai perdido há pouco para a Holanda por 3×2 (apesar das tentativas de empate que tornaram o fim da partida mais uma vez emocionante), as lembranças deste post ganham um ar “póstumo”. Mas é isso: o Uruguai fez uma Copa guerreira.

Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos. E o Brasil está fora.

Ontem, quis escrever este post logo após a eliminação do Brasil sem ter lido outros textos. O plano não vingou porque foi preciso ir depressa para a redação. Escrevo agora, já bem menos afetada pela chateação, mas não por isso enganarei vocês dizendo que este texto está isento de juízos. Ele é exatamente sobre a minha experiência com o Brasil nesta Copa.

Não torci para o Brasil. Mas não por opção, não foi uma decisão consciente, estudada. Da mesma forma que não como carne porque não me atrai, a seleção não me atraiu. E olha que eu tentei. Cheguei a ensaiar um namoro no segundo jogo (Brasil 3×1 Costa do Marfim), quando chamei o Dunga de “sogra que atrapalha” num tweet que deve estar perdido por aí.

O que doeu mais na eliminação do Brasil ante a Holanda (2×1) não foi o que aconteceu durante a Copa, mas “a vida inteira que podia ter sido e que não foi”. Pausa para o poema:

Pneumotórax (Manuel Bandeira)
Febre, hemoptise, dispnéia, e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:
– Diga trinta e três.
– Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
– Respire.
…………………………………………………………………………………
– O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
– Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
– Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

O que doeu foi o desperdício, a sequência de erros, a tragédia anunciada no ciclo de quatro anos. Cheguei a escrever um post falando que era possível que uma seleção montada na base do “estamos juntos” desse certo. E pela pouca qualidade dos convocados, dá para afirmar que deu muito certo: enfrentou adversários fracos e chegou até as quartas-de-final. Portugal era uma equipe equivalente, um pouco mais fraca, talvez. Ali, o empate bastava. Mas a Holanda — uma equipe equivalente, um pouco mais forte, talvez –, era preciso vencer.

O descontrole de Felipe Melo, vestido com o uniforme do meu país, me fez sentir vergonha. Todo erro é perdoável. Mas errar com arrogância é digno de pena porque é burrice.

Há muitos brasileiros com talento. No entanto, Dunga optou por aqueles que “estavam com ele”. Sentiu-se um homem honrado por isso. Mas uma seleção nacional não é lugar para quem tem como objetivo maior a auto-afirmação diante do seu grande inimigo seja ele qual for. Existem diversas linhas de terapia para resolver esse problema.

Seleção nacional é a congregação dos melhores. Não importa idade, não importa time. Só importa que o treinador consiga fazê-los jogar juntos.

Seleção não é tampouco lugar para pegar experiência. Foi preciso ver Kaká expulso para que o treinador aprendesse. Nos jogos seguintes, Felipe Melo e Michel Bastos foram substituídos antes que levassem o vermelho. Tarde demais e inútil, afinal, o banco nunca ofereceu opção.

Mais triste que ver a seleção cair foi perceber que eu realmente não torci para ela. Pode ser que a proximidade com o futebol tenha me tornado mais exigente. Fato é que fiquei com saudades de outros tempos.

 

Indicação: De todos os textos que li, gostei muito do escrito pelo Caio Maia (às vezes, o chefe é rebelde demais, eu sei, mas não foi o caso aqui).

PS: No final das contas brasileiras, o tango argentino de Manuel Bandeira foi um real consolo para os patriotas inveterados que insistem em odiar os hermanos. Graças a Alemanha. De goleada, ainda por cima.

A entrevista de Andrew Jennings na Carta Capital

A Fifa hoje se parece com a Máfia, segundo o jornalista inglês Andrew Jennings

30/06/2010 11:47:04

Paolo Manzo

Andrew Jennings não é um jornalista esportivo, e sim um repórter investigativo. Um
dos melhores na Inglaterra, isso é testemunhado por décadas de colaboração com os principais jornais britânicos e a BBC. Mas principalmente é o pesadelo de Sepp Blatter e da Fifa, aos quais dedicou um livro, Foul! The Secret World of Fifa: Bribes. Vote-rigging and Ticket Scandals (em livre tradução, Falta! O Mundo Secreto da Fifa: Subornos, Compra de Votos e Escândalos com Ingressos), publicado em 2006.

CartaCapital: Por que o senhor é o único jornalista do mundo com acesso proibido nas entrevistas à imprensa com Blatter?
Andrew Jennings: Porque há anos procuro em vão ter respostas do chefe da Fifa sobre corrupção e propinas, baseado em muitos documentos “confidenciais”. Com muita probabilidade cansou-se de não responder e preferiu condenar-me ao ostracismo, o que de certa forma me deixa orgulhoso. Quer dizer que mister Blatter tem medo das minhas perguntas.

CC: Em quanto importa, segundo o seu parecer, a quantia das propinas pagas pela Fifa nos últimos 20 anos?
AJ
: Segundo estimativa do tribunal de Zug, na Suíça, o valor, limitado apenas aos anos 90, é estimado em aproximadamente 100 milhões de dólares. Todo esse dinheiro acabou nos bolsos dos funcionários esportivos que estavam sob contrato, quase todos eles com a Fifa.

CC: Quando o senhor começou a recolher as primeiras provas da corrupção?
AJ
: Trabalhei durante anos sobre o tema corrupção na Fifa, juntamente com um colega alemão. As nossas suspeitas eram fortíssimas, mas não tínhamos provas porque a ISL, a sociedade que geria antes o marketing e em seguida os direitos de tevê da Fifa, era uma companhia fechada. Impossível receber informações transparentes sobre suas operações de balanço. Todavia, quando faliu de forma fraudulenta, seus livros contábeis foram colocados à disposição dos curadores falimentares, bem como dos tribunais. E foi justamente nos tribunais que tivemos a confirmação, com provas, daquilo que suspeitávamos, mesmo se a realidade superava a nossa imaginação.

CC: A corrupção na Fifa como e quando começou?
AJ
: Em 1976, o então presidente da entidade, o britânico Sir Stanley Rous, foi deposto. Ninguém podia corromper Stanley. Em seu lugar entrou o brasileiro João Havelange, que era muito corrupto. Foi ele quem inaugurou o “sistema”, recebendo propinas via ISL.

CC: Sua afirmação é grave. Ela se baseia em quê?
AJ
: Em testemunhos que recolhi de ex-integrantes da Fifa, altos dirigentes. E em documentos.

CC: Havelange chega e traz Ricardo Teixeira. Com qual resultado?
AJ
: Um boom de corrupção. A imprensa suíça escreveu que Havelange e Teixeira embolsaram a maior parte das propinas. No decorrer da transmissão do programa Panorama, da BBC, perguntei em três ocasiões a Sepp Blatter o que ele sabia sobre as propinas embolsadas por Havelange e ele sempre ficou calado. Pedi também informações de uma específica propina, mas também neste caso Blatter fez cena muda.

CC: De qual propina se tratava?
AJ
: De 1 milhão de francos suíços que deveriam acabar nos bolsos de Havelange. Por um erro foram depositados numa conta da Fifa, provocando o pânico entre os dirigentes honestos da organização. Posso garantir que havia três pessoas numa sala da Fifa quando chegou aquele pagamento: Sepp Blatter e outros dois altos dirigentes. Falei com estes, que me confirmaram que o destinatário da propina era Havelange. Um dos dois entregou uma declaração oficial e assinada aos advogados da BBC, na qual afirmava que, em caso de processo por parte da Fifa contra mim e a BBC, ele compareceria no tribunal para confirmar que o pagamento era para Havelange. O mesmo, porém, pediu para não ser citado na reportagem que foi divulgada pela BBC, e que qualquer um pode apreciar na internet.

CC: O pagamento teria sido feito por quem?
AJ
: Pela ISL, no início de 1998.

CC: E o que há em relação a Teixeira?
AJ
: Bastaria olhar os documentos da acusação criminal depositados à margem do processo de Zug. Em relação aos depósitos feitos pela ISL, há um para a Renford Investment Ltd, sociedade controlada por Havelange e Teixeira. 

Aí está a entrevista de Andrew Jennings publicada na Carta Capital. Havia citado e comentado aqui no blog aquela feita pelo Estadão.

Se alguém quiser encontrá-lo por aqui, Jennings será um dos palestrantes do 5º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji entre os dias 29 e 31 deste mês em São Paulo.