Existe amor no Jornalismo

Vocês já devem ter visto esta notícia, do envio de pizzas à redação do Boston Globe pela redação do Chicago Tribune. Foi com este comentário, “existe amor no Jornalismo”, que a colega de profissão @fernanda_reis_ passou adiante o tweet:

Para a redação do Boston Globe:

Nós apenas podemos imaginar quão exaustiva e dolorida foi esta semana para você e sua cidade. Mas saibam que seus colegas de redação aqui de Chicago e em todo o país reverenciamos a sua tenaz cobertura. Vocês nos fazem orgulhosos de sermos jornalistas.

Não podemos comprar sono perdido para vocês, então pelo menos deixem o almoço por nossa conta.

Seus amigos do Chicago Tribune.

O pessoal do Boston Globe chegou a noticiar o recebimento do  “presente”, mas como a paywall do site do jornal foi levantada novamente após a semana intensa de cobertura sobre as bombas que explodiram na maratona de Boston, só dá pra ler o primeiro parágrafo. Não sabemos se o ato teve alguma outra motivação (é, cabeça de jornalista… a gente desconfia de tudo), mas foi algo bacana.

Parênteses: Sem querer tirar o romantismo da coisa, preciso dizer que tive uma pequena epifania, uma relação que acabei fazendo por conta de tudo o que tenho estudado nos últimos tempos. Fala-se tanto em estratégia de social media considerando apenas ações baseadas em recursos digitais, que muitos especialistas/agências/empresas, principalmente as que têm orçamento menor, acabam se esquecendo do quanto uma sutileza da vida real também é capaz de gerar engajamento e simpatia inclusive no meio digital, sem nem sempre custar caro.

Twitter para o bem e para o mal

O que se passa no Haiti, todos nós já sabemos. O tremor de 7 graus na escala Richter cujo epicentro está a mais ou menos 15km de Porto Príncipe aconteceu no dia 12, derrubou a capital e cidades do interior, pode ter matado até 100 mil pessoas e tem sido seguido por outros tremores um pouco mais suaves. O mais importante: com frequência intensa — e que muitas vezes descamba para o exagero emotivo  — os meios de comunicação nos têm feito saber do sofrimento e da necessidade de suporte.

Infelizmente, ao mesmo tempo em que serve para dar vazão a muita coisa boa, a internet também é canal de proliferação de falta de caráter e imbecilidades em geral. Entrem neste perfil do Twitter, mas com cuidado (e só coloco o link aqui porque acredito na boa fé dos leitores): @LisandroSuero. Ler um único post é suficiente para saber que a boa intenção deste cara é exclusivamente com ele mesmo — e é bem torta, ainda por cima. Escrita em caixa alta, pontos de exclamação e uma série de tweets com seu número de telefone e e-mail, convidando as pessoas a entrevistá-lo e procurá-lo. Seu chamariz são fotos impublicáveis da catástrofe alheia, as sobras das agências, que nenhum (ou quase nenhum) veículo divulga.

Talvez nem todos que passam por aqui saibam como funciona o processo de escolha de imagens dentro de uma emissora, jornal, revista ou site. As agências de notícias enviam uma série de fotos para todos os veículos que assinam o serviço; há ali desde as mais poéticas até as mais bizarras, sanguinolentas, assustadoras. Cabe aos editores escolher aquelas que acreditam que seu público deve acessar. No meio disso tudo, uma regra tácita manda que leitores e telespectadores sejam poupados de ver a destruição física do ser humano, seus destroços.

Sigo a regra não por imposição, mas porque entendo que um corpo degradado mexe com instintos muito primários, incomoda e não serve para nada. Resumindo: ver uma cabeça cortada ao meio, um rosto desfigurado não é necessário para motivar alguém a querer ajudar o Haiti — bastam as informações que chegam. Veja um exemplo aqui. As fotos do NY Times sensibilizam o suficiente sem mostrar pessoas decepadas. E para tirar esta conclusão, nem foi preciso falar do puro prazer mórbido que muita gente tem em ver este tipo de coisa.

O pior é notar que talvez este último grupo esteja se sobressaindo sobre os demais: acessei o tal perfil há uma semana e havia cerca de 500 seguidores. Agora, são mais de 700. Eu sinceramente espero que este post não sirva para fazer a leva crescer.

UM ADENDO antes mesmo de publicar: É preciso trabalhar com limites — éticos, não necessariamente legais (censura, no caso). Sou a favor de algo que ajude. E só.

Bancos monitoram redes sociais

Nos últimos tempos, alguns bancos começaram a se dedicar a entender o que é dito sobre eles nas redes sociais. O Orkut e o Twitter são os principais alvos do monitoramento porque são os que têm maior penetração entre o público brasileiro, principalmente no caso do primeiro. A maioria dos usuários do Twitter, sabe-se, passa boa parte do tempo calados observando o que postam jornalistas, celebridades, esportistas, etc, que invariavelmente criticam problemas que têm com serviços. Para piorar, os tais “calados”, quando resolvem piar, é geralmente para reclamar.

O último relatório de um destes bancos, sobre os três grandes do Brasil na penúltima semana de 2010, revela o que segue.

No Twitter:
  – Banco do Brasil teve mais comentários positivos que negativos. 
    Destaques: propaganda de fim de ano, lançamento de ADRs (o “American Depositary Receipt” permite que investidores americandos comprem parte de empresas estrangeiras).
  – Bradesco foi mais elogiado que criticado, mas numa proporção menor. 
    Destaques: árvore de Natal da Lagoa Rodrigo de Freitas, patrocínio ao Jogo das Estrelas.
  – Itaú sofreu mais de 50% de críticas em posts que se referiam ao banco. 
    Destaques: o locutor/apresentador Silvio Luiz reclamando das taxas cobradas pelo Itaú, escritora Glória Peres twittando assalto em agência em Copacabana.

No Orkut, a comunidade analisada cujos dados foram divulgados para os funcionários foi justamente aquela que agrega a classe. Os tópicos mais movimentados dizem respeito à unificação do Banco do Brasil com a Nossa Caixa e as consequências que isto pode ter no trabalho e nas remunerações.

O intuito, aqui, não é utilizar os dados para qualquer tipo de comparação de mercado. Eles servem para ilustrar uma tendência irreversível: a da influência das redes sociais na imagem de grandes, médias, pequenas e minúsculas, que sejam, corporações.

Um ou outro banco já percebeu e é o que o relatório mostra. O desafio e próximo passo é o que fazer com estas informações. De que adianta saber o que é dito e nada fazer para melhorar o atendimento?

O Ponto Frio, por exemplo, andou caçando e oferecendo suporte a consumidores rebeldes no Twitter e ganhou aplausos. A TAM e a Vivo, gigantes nacionais, são apenas alguns daquelas que insistem em ignorar as redes. Ainda há poucos estudos que consolidam números, mas não é preciso. A influência das redes sociais é tátil, é visível. E quem insiste em ignorá-las, a cada minuto que passa, perde.

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